«Foi então que de repente caí das nuvens. E lembrando tanta coisa que se lê, porque anda publicada por aí, compreendi que não era só eles a pensar assim.
Não. A poesia não é tristeza. A poesia não nasce de mentiras, embora nem só a verdade a sustente. A "verdade" dos textos é certo que nem sempre corresponde à verdade dos factos, mas o impulso que leva à criação é que não pode começar por ser falseado, por ser uma mentira.
Escrever será então criar "uma outra verdade" (a dos textos), a partir de uma verdade interior própria de quem escreve. Talvez fosse isto que pretendia mostrar Fernando Pessoa quando escreveu a já famosa quadra:
"O Poeta é um fingidor
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente."
Convém não esquecer que Poeta = produtor de textos, e que a tal dor é deveras, mas agora através do "fingir" = "verdade outra", a verdade nova da criação poética.»
Maria Alberta Menéres, O poeta faz-se aos 10 anos