Miguel Torga
Doiro
Suor, rio, doçura.
(No princípio era o homem...)
De cachão em cachão,
O mosto vai correndo
No seu leito de pedra.
Correndo e refletindo
A bifronte paisagem marginal.
Correndo como corre
Um doirado caudal
De sofrimento.
Correndo, sem saber
Se avança ou se recua.
Correndo, sem correr.
O desespero nunca desagua...
Régua, 16 de setembro de 1962
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